Capitão Nascimento: Do Desarmamento ao Estado Totalitário
Bene Barbosa*
Nos últimos dias, a notícia que o ator Wagner Moura, que protagonizou o conhecido filme Tropa de Elite no personagem Capitão Nascimento, iria emprestar sua voz para a campanha de desarmamento pululou em vários jornais e nas redes sociais. Nos jornais, de forma séria e informativa, quase em um tom de festa. Nas redes sociais, grande parte de forma irônica e bem humorada. Chegaram até a propor que aqueles que não compactuam com a campanha chamassem o Chuck Norris para fazer uma campanha contrária e a descrever uma imaginária cena do Capitão Nascimento torturando um cidadão para que ele entregasse sua arma…
Não sei exatamente como foi feita essa negociação entre o governo e o ator, se foi convidado, contratado ou se alistou. Acho até que ele não ganhará nada para fazer tal propaganda, que vale lembrar, é propaganda requentada, aquela que fala em “bala” perdida, como se fosse o cidadão honesto responsável pelos tiroteios entre policiais e criminosos.
Imaginando que nem todos são movidos apenas pelo vil metal e que ele não cobrará por isso, ficaria claro então que o ator Wagner Moura realmente acredita na benesse de tal campanha. Acredita que haverá mais segurança se todos os aposentados e viúvas entregarem suas armas, pois esse é o perfil predominante daqueles que o fazem. Pouco provável que seja isso. Explico.
Relendo algumas velhas entrevistas do Capitão Nascimento, ou melhor, do ator Wagner Moura, é possível com bastante precisão montar um perfil de seu posicionamento ideológico e, acreditem, isso não passa nem perto do pacifismo. Numa entrevista para o jornal Folha de São Paulo em 2007 há um pequeno trecho mais do que revelador, que aqui reproduzo:
"E eu ainda acredito na esquerda, não na boba, utópica, mas em um Estado intervencionista. Acho o liberalismo uma coisa perigosa. Deixar as coisas andarem nas mãos da iniciativa privada é perigoso. O Estado tem que ter poder." Grifos nossos.
Está ai a explicação! Claramente Wagner Moura acredita no desarmamento como a instituição do monopólio da força nas mãos do Estado, onde o cidadão deve ser guiado como uma ovelha pelo onipresente “grande irmão”. Cumpre-nos a obrigação de lembrar ao ator que o perigo maior sempre está exatamente em um Estado que desarma seus cidadãos, que institui o monopólio da força. Isso não acabou nada bem em países como a Alemanha nazista, a antiga URSS ou com o carcomido regime de Fidel Castro.
E qual seria a estratégia do Ministério da Justiça ao convocar o Capital Nascimento? Simples e óbvio: mesmo contra a vontade do ator e dos produtores do filme, o Capitão Nascimento virou um herói nacional, um ídolo para muitos. “Ora, se até o Capitão Nascimento está falando que é melhor entregar, então é melhor mesmo” imaginam eles. Um pensamento típico daqueles que acreditam que estão lidando com uma nação de criancinhas sem capacidade de raciocínio, de distinguir o que é real e o que é cinema! Será que não aprenderam nada mesmo no referendo de 2005?
Pelo que parece, no final das contas é melhor que o governo se desarme, pois sua especialidade ao falar de armas é atirar no próprio pé. Acreditem, nem com saco na cabeça a sociedade brasileira vai abrir mão deste direito.
AUTORIZADA A DISTRIBUIÇÃO E PUBLICAÇÃO DESDE QUE EM SUA ÍNTEGRA
ENQUETE NO SITE DA AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Você concorda com a realização de novo plebiscito sobre a autorização para o comércio de armas e munições?
- Sim, porque a população deve decidir agora com base no alto número de armas ilegais que estão em circulação no País.
- Não, porque a sociedade decidiu em 2005 não proibir esse comércio, e uma nova consulta poderia trazer mais gastos para se chegar a mesma decisão.
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